As Andanças do Senhor Fortes
O senhor Fortes era um homem muito forte e alto. Ele tinha uma
mala castanha, pesada e forte. O senhor Fortes era tão forte que conseguia
pagar na mala só com uma mão. Dentro dessa mala havia objectos finos e
delicados, como por exemplo: chávenas, cordões, pratos, bonecas de barro,
espelhos… O senhor Fortes vivia numa cidade muito apressada, muito poluída e
barulhenta. Nessa cidade havia muitos carros e fábricas. O senhor Fortes tinha
a sua mala castanha aberta no passeio. As pessoas eram tão apressadas que quase
que calcavam as coisas que estavam na mala. E ele dizia para terem cuidado. As
pessoas estavam tão assustadas que iam aos trambolhões umas com as
outras. O senhor Fortes estava tão triste porque o negócio não lhe
correia bem, ele só tinha sorte quando os meninos pediam às mães para comprar
os bonecos de barro. Uma vez, um senhor ia tão apressado que nem viu que o
Fortes tinha a mala aberta no passeio. E o Fortes gritou:
- Cuidado, cuidado!!
O senhor assustou-se e bateu com as costas na esquina da rua. O senhor
estendeu a mão como se fosse a pedir desculpa. Depois o senhor Fortes perguntou
se não se tinha magoado. Mas o senhor Fortes sentia-se deprimido com o seu
negócio. Por isso decidiu deixar a cidade e ir para uma aldeia calma. O
senhor Fortes trancou a sua barraca, feita de tábuas e chapas velhas, com uma
chave e pôs um aviso na porta. Ele foi caminhado até chegar à estação do
autocarro. O senhor Fortes comprou o seu bilhete, mas o motorista não o deixou
entrar com a sua mala. Uma velhinha que era doente das pernas, disse que ele
podia entrar com a mala mas pagava o bilhete como a sua filha. E o Fortes com a
sua mala seguiu para a aldeia de Loivos. Quando lá chegou ficou espantado ao
ver que a estrada estava esburacada, não havia muitas casas, nem poluição.
Quando lá chegou, pousou a sua mala no chão. Pouco depois ouviu um barulho de campainhas.
Ao princípio pensou que era um bando de miúdos de bicicletas, mas logo viu que
era um rebanho e atrás do rebanho viu um pastor. O senhor Fortes ao vê-lo
cansado ofereceu-se para ajudar a arrumar o rebanho na sua corte. Quando
chegaram a casa do Arnaldo, ele abriu a porta e convidou o senhor Fortes a
entrar. Ele entrou e a cabrinha também. O senhor Fortes ficou admirado por a
cabrinha ter entrar, mas o pastor explicou-lhe que ela entrava sempre porque
era a sua companhia.
A casa do Arnaldo era muito pequena, só tinha uma sala e uma cozinha. Na cozinha havia uma lareira, uma preguiceira, uma
panela de ferro, um regador, um armário grande e negro e um prego na parede que
servia para segurar a candeia. Depois o Arnaldo acendeu a lareira, meteu a
panela ao lume, foi buscar batatas, fez o jantar e senhor Fortes ajudou.
Enquanto faziam o jantar, a cabrinha que estava na preguiceira, olhava para as
cascas das batatas. A seguir ao jantar ficaram a conversar junto à lareira e o
Arnaldo perguntou ao senhor Fortes o que ele tinha na mala. O senhor Fortes
disse que tinha muitas coisas finas, abriu a mala e mostrou-lhe. O Arnaldo
ficou admirado mas não precisava daquelas coisas nem tinha dinheiro para as
comprar. Seguidamente, o pastor decidiu mostrar as habilidades da cabra
Ricardina e pegou numa flauta e começou a tocar e a cabra a dançar. O senhor
Fortes bateu palmas e tirou da mala um lenço vermelho e pô-lo no pescoço da
cabritinha. O pastor riu-se e disse que nunca tinha pensado nisso. Depois, como
já estavam cansados, decidiram ir dormir.
Quando chegaram à sala o senhor Fortes viu um retrato do pastor com um
cão e perguntou onde estava o cão. O pastor disse que esse cão já não existia e
que tinha tido uma história triste que no dia seguinte lhe contaria. Por fim
adormeceram rapidamente e a cabrinha também adormeceu. No dia seguinte
levantaram-se muito cedo, o Arnaldo foi mungir as cabras e as ovelhas e o
senhor Fortes ficou a fazer café. Quando o Arnaldo chegou chamou a Ricardina,
tirou-lhe o leite para uma malga e puseram-lhe café e leite e comeram. Depois
de comerem foram com o rebanho para o monte. Ao chegarem ao monte o rebanho espalhou-se
para comer. O senhor Fortes sentou-se num penedo e ficou a admirar a paisagem.
Depois disse ao Arnaldo que aquele monte lhe fazia lembrar o mar. O Arnaldo
ficou admirado e perguntou-lhe se o mar era igual ao monte. O senhor Fortes
disse-lhe que havia muitas coisas que podiam ser comparadas. Depois de ouvir o
senhor Fortes, o pastor, disse que gostava de ver o mar. No fim do dia
recolheram o rebanho e seguiram para casa doo Arnaldo. Quando chegaram, o
Arnaldo disse que lhe ia contar a história do Tejo, o seu cão. Um dia apareceu
um lobo e atacou o rebanho, o Tejo queria defender o rebanho e mas os lobos
mataram todas as ovelhas, cabras e o Tejo. Só restou a Ricardina. O Arnaldo
tinha um retrato do Tejo que lhe tinha sido oferecido por um senhor que por lá
tinha passado um dia. No domingo seguinte, foram à missa. No fim da missa, o
senhor Fortes, abriu a mala no adro da igreja e as pessoas ficaram admiradas e
perguntavam o preço das coisas. Mas não compravam porque achavam tudo muito
caro.
O Arnaldo ficou admirado e perguntou-lhe se o mar era igual ao monte. O
senhor Fortes disse-lhe que havia muitas coisas que podiam ser comparadas.
Depois de ouvir o senhor Fortes, o pastor, disse que gostava de ver o
mar. No fim do dia recolheram o rebanho e seguiram para casa doo Arnaldo.
Quando chegaram, o Arnaldo disse que lhe ia contar a história do Tejo, o seu
cão. Um dia apareceu um lobo e atacou o rebanho, o Tejo queria defender o
rebanho e mas os lobos mataram todas as ovelhas, cabras e o Tejo. Só restou a
Ricardina. O Arnaldo tinha um retrato do Tejo que lhe tinha sido oferecido por
um senhor que por lá tinha passado um dia. No domingo seguinte, foram à missa.
No fim da missa, o senhor Fortes, abriu a mala no adro da igreja e as pessoas
ficaram admiradas e perguntavam o preço das coisas. Mas não compravam porque
achavam tudo muito caro. O Arnaldo disse ao senhor Fortes que era melhor ir
guardar o rebanho com ele pois naquele sítio não ia conseguir vender nada. O
senhor Fortes sentiu-se triste por não conseguir fazer negócio. O Arnaldo não
gostou de o ver triste e foi buscar umas castanholas para ele tocar. Tocaram
uma música e o senhor Fortes ficou mais animado.
Passado algum tempo, o senhor Fortes começou a conversar menos e o pastor ficou
preocupado e perguntou-lhe o que se estava a passar. Ele respondeu que já
sentia saudades da cidade, do barulho, de ver pessoas. O Arnaldo ficou com
receio que ele se fosse embora e perguntou-lhe se era mesmo isso que ele
queria. O senhor Fortes disse-lhe que sim. O pastor ficou muito triste. Então o
senhor Fortes perguntou-lhe se ele não queria ir com ele para a cidade. Depois
de muito pensar o Arnaldo disse-lhe que sim, que ele e a Ricardina iam com ele.
Numa bela manhã, em vez de irem ao monte, foram à paragem dos autocarros. O
senhor Fortes, a meio do caminho, perguntou ao Arnaldo se o novo pastor era de
confiança, se iria cuidar bem do rebanho. O Arnaldo disse que sim. Quando
chegaram à estrada o Arnaldo lembrou-se que o autocarro só levava passageiros e
bagagem, mas não sabia se levavam cabras. O senhor Fortes disse que se pagasse
o bilhete poderia entrar. Entretanto passou um camião, o motorista parou o
camião e perguntou se eles queriam boleia. Eles responderam que sim. O senhor
Fortes perguntou ao motorista se sabia de algum sítio onde houvesse uma festa.
O motorista respondeu que havia na vila dos Carvalhos Velhos. Então decidiram
dirigir-se para lá. Pouco depois chegaram ao sítio indicado pelo motorista.
Quando lá chegaram foram dar um passeio para ver a feira e o circo. O senhor
Fortes tirou da sua mala um tapete vermelho e pô-lo no chão, o Arnaldo compôs o
lenço à Ricardina, começaram a tocar e a Ricardina a dançar. As pessoas, ao
verem a Ricardina, aproximavam-se cada vez mais.
No fim do espectáculo elas começaram a bater algumas palmas. O senhor
Fortes disse que como era a primeira vez, não era suposto correr bem. Afinal, o
senhor Fortes tinha razão. No dia seguinte tiveram mais sucesso. As habilidades
dos três artistas corriam de boca em boca. As pessoas perguntavam umas às outras se
tinham visto uma cabra a dançar. O senhor Benjamim, dono do circo Mundial, não
gostou nada, porque as bancadas não enchiam completamente. O senhor Benjamim
perguntava-se a si próprio o que tinha acontecido. Chegou a noite e o Benjamim
viu que não estava lá ninguém e foi ver o que se passava. O dono do circo
chegou quase no fim do espectáculo. Enquanto o Arnaldo apanhava as moedas, o
senhor Fortes abria a mala e vendia tudo, só restou dois espelhos. O dono do
circo, para meter conversa, foi comprar os dois espelhos e perguntou-lhes se
estariam interessados em trabalhar para ele. O senhor Fortes perguntou ao
Arnaldo se era boa ideia e ele disse que sim. O senhor Benjamim e os outros
artistas foram distribuir os cartazes pela vila a anunciar os novos artistas do
circo. Os espectáculos correram muito bem. A festa da vila tinha acabado e o
dono do circo disse que no dia seguinte iam desmontar a tenda e iam para Vila
Conde. O senhor Fortes começou a saltar, levantou os braços e disse ao Arnaldo
que finalmente ia ver o mar e começou a cantar.